O que a saga intergalática de George Lucas tem a ver com o surgimento do coworking no Brasil? Tudo!
O ano era 2006 e eu não estava em uma galáxia muito, muito distante. Estava em São Paulo em meio a uma das empreitadas mais loucas da minha vida de empreendedor! Resolvi que traria de qualquer forma - sem ter um plano muito bem definido para isso - a exposição do épico cinematográfico Nerd da Lucas Films para o Brasil. Larguei o emprego numa agência de publicidade e iniciei a carreira de produtor cultural.
Com a experiência acumulada em outros eventos do gênero e muita determinação, depois de ter assistido ao filme-best-seller de auto ajuda “O Segredo”, decidi que nada me impediria de alcançar meu objetivo e devo confessar que, apesar do meu imenso ceticismo com as obras do gênero, o tal filme mostrou que funcionava!
Reuni esforços e investimentos para convencer a Lucas Films de que o projeto era viável e iniciei a produção que durou quase 2 anos. Tudo era novo para mim neste ramo e rapidamente comecei a reunir parceiros e fornecedores (um pequeno exército) a fim de colocar a produção de 1.500m2 de pé no Porão das Artes, subsolo do prédio da Bienal.
Tudo andando bem em ambos os lados da força e o home-office onde tudo começou logo começou a ficar apertado. Da mesma forma muitos profissionais envolvidos no projeto também tinham o mesmo problema. As pessoas precisavam de espaço de trabalho que muitas vezes era extremente variável, em função do tamanho e da duração das produções. Eu mesmo queria montar um escritório, mas como empreendedor iniciante não estava disposto a arcar com altos custos fixos e investimentos. Por outro lado meu espírito arquiteto-publicitário não admitia trabalhar num muquifo isolado do mundo.
Eu precisava encontrar um um local de trabalho que me gerasse renda, e não despesa.
Na mesma época o arquiteto e museógrafo Vasco Caldeira (gênio responsável pela expografia do Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro) estava mudando de escritório e enfrentava dilemas semelhantes aos meus, enquanto desenvolvia o projeto da Exposição Star Wars.
Propus de implementarmos um piloto de escritório compartilhado. Idéia que eu já fermentava há algum tempo. E foi assim que na aurora de 2008 inauguramos nosso escritório compartilhado na Vila Buarque, ao lado da Universidade Mackenzie, centro de São Paulo.
Logo outros profissionais de design, produção, arquitetura e afins se juntaram à turma, dividindo o open office de forma muito semelhante ao que Brad Neuberg - “inventor” do coworking - fez em San Francisco em 2005. Ainda que eu não fizesse idéia de que ele sequer existisse. O sucesso da experiênicia me animou a procurar uma área maior e assim meio sem querer fui parar no Jardins, na simpática Rua Br. de Capanema, pela qual me apaixonei!
Até então eu chamava minha iniciativa de Estúdio Virtual e por isso batizei o escritório de Estúdio Capanema, em homenagem a rua onde estava me estabelecendo. Nunca tinha ouvido falar de coworking até que outros espaços começaram a surgir em 2009, como o Ponto de Contato em Pinheiros e o Hub na Consolação. Quando meu amigo Dennis Ferreira enviou um email promocional falando de coworking a ficha caiu: Mas isso aqui sou eu! Lembrei do Fato Social, de Durkheim, que surge da sociedade e ganha vida própria (embora eu nunca tenha entendido bem essa parte, confesso). O inconsciente coletivo já estava agindo e a idéia rapidamente se espalhando.
Adotei então a alcunha de coworking e segui com o desafio de vender algo que as pessoas não estavam procurando. Com mais sorte do que juizo fui evoluindo, errando e aprendendo enquanto amadurecia o modelo de negócios, a gestão e os desafios de ter uma pequena comunidade mutante e itinerante convivendo sob o mesmo teto. O nosso andar inicial foi expandindo. 2, 3, 4, até chegar a 5 andares. Cada nova obra uma experiência de espaço, layout e formato. Alguns clientes/coworkers daquela época estão aqui até hoje!
O resto todo mundo já sabe. O movimento se espalhou e explodiu pelo Brasil e o mundo!
Muitas boas histórias surgiram nestes quase 12 anos de trabalho compartilhado e o mercado ainda está apenas engatinhando. Hoje o Estúdio Capanema ganhou vários irmãos através da rede de escritórios REFLOW, que surgiu da tentativa de antever o que seria a próxima geração dos coworkings e as mudanças profundas no mercado imobiliário sobre as quais já escrevi aqui no Blog.
Do pioneirismo, aprendi que nada é para sempre. Absolutamente tudo muda e precisamos estar sempre atentos e olhando para o horizonte. Não esperando, mas antevendo o que está por vir.
Ricardo Comissoli
Fundador do Estúdio Capanema
e da Reflow.me
Foto: Ana Ferriani